NOTAS PARA UMA VIAGEM
Este é
um novo espaço que se abre a todos quantos por este nosso planeta azul se interessam, um
espaço que se pretende naturalmente aberto e onde muito do essencial terá a ver com as
actividades que o Instituto vai desenvolvendo, por si e em estreita colaboração com
Universidades e outras instituições congéneres, tanto no plano nacional como
comunitário e internacional.
Sendo as
pescas (no seu sentido mais amplo, desde a captura e o cultivo até ao consumidor,
passando pela indústria transformadora) a nossa principal preocupação, nem por isso
outros domínios da ciência e da tecnologia aplicados ao estudo dos oceanos e dos seus
recursos assumem menor importância na actividade do IPIMAR.
Ao longo
de dezenas de milhares de anos, a água, o alimento e as fontes de energia representaram
três elementos essenciais para a sobrevivência da humanidade.
No
futuro, como hoje e no passado, o acesso a essas fontes de vida representa um dos mais
sérios e difíceis desafios que se colocam às gerações do presente, não sendo
excessivo pensar que, porventura não muito longe no tempo, elas possam estar na génese
de novos conflitos.
O
crescimento industrial e o desenvolvimento assentaram, na última centena e meia de anos,
por via de regra, no desperdício e na contaminação do ambiente criando-se, pouco a
pouco, condições que levaram à desflorestação, à perda de solos, ao desaparecimento
de inúmeras formas de vida e à rarefacção de outras, ao mesmo tempo que contribuiram
para o que parecem ser indícios de alterações climáticas.
Ao longo
de décadas os mares costeiros e, depois, os oceanos foram o grande reservatório para os
efluentes urbanos, lixos industriais e resíduos radioactivos, ao mesmo tempo que os seus
recursos vivos foram explorados de forma excessiva a ponto de parte importante deles se
encontrar em situação altamente preocupante, obrigando a medidas de contenção
inimagináveis duas a três décadas atrás.
Em
consequência de toda este processo evolutivo, novos conceitos surgiram, expandindo-se
rapidamente na última dezena de anos, com importantes consequências, incluindo no
relacionamento dos homens e das nações, tanto no plano dos princípios como no do
direito.
Também
ao nível da investigação se assiste a um novo e mais vivo interesse pelas coisas que ao
mar, aos recursos marinhos e aos fundos submarinos digam respeito, acentuando-se os
esforços conjugados de inúmeras nações costeiras no aprofundamento do estudo das
múltiplas e complexas questões que caracterizam os ecossistemas aquáticos.
Subjacente
a todo este esforço não está apenas a necessidade de regular de modo mais responsável
e respeitador dos direitos das gerações vindouras as actividades que, tradicionalmente,
se prendem com o mar mas, também, a procura de fontes alternativas de alimento e de
produção de riqueza.
Há meio
milénio, os oceanos serviram de ponte de passagem para a descoberta de outros mundos; nos
dias que correm e uma vez mais, eles encontram-se na fronteira das nossas vidas.
Os
oceanos são parte importante do futuro à nossa espera e mal seria que não soubéssemos
ou quiséssemos aceitar o desafio desta outra viagem de descoberta.
Carlos
Costa Monteiro
Vice-Presidente do IPIMAR |